Com exceção do topo da pirâmide, os brasileiros nunca consideraram o exterior uma possibilidade real de investimento. Não valia a pena diversificar nesse nível e correr mais risco por retornos inferiores à Selic.
Mas agora essa situação mudou. A taxa básica de juro na mínima histórica, em conjunto com uma inflação controlada e com o avanço da tecnologia, permite pensar mais facilmente em investir lá fora.
Juros baixos exigem maior diversificação e assunção de risco. E o nível de diversificação de um mercado maduro é incomparável. Atualmente, cerca de 3.500 empresas são listadas nas bolsas americanas, sete vezes o número de empresas com papéis negociados na B3.
O que está em questão é a possibilidade de ganhar com tendências e negócios que ocorrem fora daqui. É o caso de grandes empresas de tecnologia, como Amazon, Google, Facebook, Apple e Alibaba, e também de startups da economia compartilhada, como a Uber, listadas em bolsas americanas. Esse movimento é global e passou a incluir recentemente empresas nacionais — a última delas é a XP, que abriu o capital em dezembro na Nasdaq. Empresas de meio de pagamentos, como PagSeguro e Stone, também foram à bolsa no exterior.
De janeiro a novembro de 2019, os fundos nacionais de ações que investem parte relevante do patrimônio no exterior registraram a segunda maior rentabilidade entre os fundos de ações: 33,6%, segundo dados da Anbima.
Foi o triplo da rentabilidade obtida por esses fundos no mesmo período do ano anterior. No ano passado, bons dados de crescimento nos Estados Unidos refletiram em índices de ações, como o S&P500, que reúne as 500 maiores empresas americanas, com valorização de 29%, o maior retorno desde 2013. As eleições americanas podem trazer mais volatilidade para os papéis, mas esse risco adicional também oferece oportunidade de ganhos.
Já títulos emitidos no exterior por empresas como Ford e Bradesco com vencimento entre 2025 e 2027 pagam atualmente de 4% a 6% ao ano. Basta subtrair a inflação americana e se chegará a um retorno maior do que o proporcionado por aplicações de renda fixa no Brasil.
Investir no exterior não é só para milionários. Essa saída geográfica pode fazer sentido para investidores do varejo em alternativas mais democráticas, como os fundos de índice (ETFs) e os fundos locais com exposição ao exterior, segundo William Eid, professor no Centro de Estudos em Finanças da FGV. Já para quem tem mais recursos, acima de 100.000 reais, títulos de dívida de grandes empresas pagam bem e são resilientes.
É recomendável que a diversificação no exterior represente de 10% a 15% do total do portfólio. “Uma vantagem de investir fora é reduzir o risco político, que está sempre presente no Brasil”, diz Eid.
É importante que a diversificação no exterior, portanto, não seja encarada como uma maior aceitação de risco, e sim como uma proteção adicional. “A redução da volatilidade de um portfólio é obtida principalmente com uma baixa correlação ou correlação negativa dos ativos que o compõem.
O investimento em economias e moedas diferentes cumpre esse papel”, diz Carlos Takahashi, presidente da gestora global BlackRock. Importante: aplicações em renda fixa, em geral, incluem hedge cambial.
Ou seja, eliminam o risco da moeda, enquanto investimentos em renda variável costumam incluir esse risco para ampliar a rentabilidade.